Um movimento de pais, ligados ao catolicismo, estão buscando apoio para tentar frear a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Por considerarem que o documento é estruturado no “viés ideológico da esquerda brasileira”, o grupo defende que a base seja submetida à aprovação do Congresso Nacional. A proposta de intervenção é criticada por especialistas.
Na sexta-feira, 3, o Movimento Unidos pela Educação (Mupe), criado neste ano por um grupo de pais que têm filhos em escolas confessionais, fez um seminário para discutir “educação, família e a base”. O movimento busca apoio e visibilidade para mudar o documento, que considera ter “estrutura marxistas” e desrespeitar o ensino religioso.
“A base afronta as famílias por ter viés marxista, traz valores distorcidos que vão contra nossa sociedade. O documento só fala em luta de classes. O marxismo está presente até em Química”, disse a advogada Solange Santos, de 45 anos, uma das fundadoras do Mupe.
“O documento ataca nossas tradições. Iguala a crença cristã ao ateísmo, ao politeísmo. Minha sobrinha ficou três anos para fazer catecismo e agora vai para a escola e vão ensinar que o que a Igreja disse está errado? Não podemos aceitar isso nas escolas”, disse Juliana Paffaro, de 39 anos, formada em Moda e também fundadora do Mupe.
O principal apoio do movimento é do deputado federal Rogério Marinho (PSDB-RN), que apresentou projeto de lei para que a base seja aprovada pelo Congresso Nacional. Na Câmara dos Deputados, a Frente Parlamentar Católica tem 209 parlamentares e a Frente Evangélica, 199 integrantes. Se aceita, a proposta alteraria o Plano Nacional da Educação (PNE) que não prevê a aprovação da base pelos parlamentares, mas apenas parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE).
“O documento tem uma visão ideológica e parcial da história e dos fatos sociais. Temos uma preocupação de que a base, que foi elaborada por meia dúzia de especialistas das universidades, não vai mostrar a visão plural da sociedade”, afirmou o deputado, que se disse católico.
A base foi desenhada por 116 especialistas de 35 universidades e teve a colaboração de outros 96 revisores técnicos. Entidades científicas também participaram da elaboração, além de ter ficado seis meses em consulta pública e recebido mais de 12 milhões de contribuições.
O secretário estadual da Educação, José Renato Nalini, foi convidado, na tentativa do grupo de angariar apoio. Ele, porém, se manteve distante do movimento. “Já está na Constituição e não há a menor possibilidade de se alterar: o ensino religioso é facultativo. Quem quiser tem à disposição as escolas confessionais”, disse Nalini. O Vicariato para a Educação, da Arquidiocese de São Paulo, defendeu a linha de pensamento do secretário.
A direção nacional do PSDB também se distanciou do projeto do deputado. Em nota, o partido afirmou desconhecer o proposta de Marinho. O Ministério da Educação informou entender que “não há necessidade da criação de uma lei no Congresso para tratar sobre o tema”.
Críticas. No dia 25, o ator Alexandre Frota visitou o ministro da Educação, Mendonça Filho, para apresentar um projeto sobre uma escola sem partido. Para especialistas, como José Goldemberg, ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP), esse tipo de intervenção é um atentado à liberdade de cátedra e distorce o papel da escola.
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