No
segundo trimestre de 2024, cerca de 9,8 milhões de jovens entre 15 e 29 anos,
aproximadamente 20% desse grupo etário, estão sem trabalho e fora da escola,
sendo classificados como geração "nem-nem". No entanto, a designação
simplista desses jovens como "nem estudam, nem trabalham" não reflete
a realidade da maioria que se encontra em situação de transição ou enfrentando
barreiras estruturais para ingressar no mercado de trabalho ou continuar os
estudos.
A
atribuição da responsabilidade pela situação dos "nem-nem" aos
próprios jovens é equivocada, demonstra uma pesquisa do Departamento
Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Os
dados comprovam que a maioria desses jovens está longe de estar ociosa,
enfrentando, na verdade, um mercado de trabalho com alta rotatividade, postos
de trabalho precários e poucas oportunidades de qualificação. Muitos não
conseguem continuar estudando ou buscar emprego de forma ativa devido à falta
de recursos financeiros. Assim, soluções como a ampliação de cursos
profissionalizantes ou a flexibilização das leis trabalhistas, como o contrato
intermitente, têm se mostrado insuficientes para resolver o problema.
Dados
da pesquisa
-
7% dos jovens considerados "nem-nem" não estavam envolvidos em
atividades como procurar emprego, realizar afazeres domésticos ou participar de
cursos não regulares;
-
Apenas 1,4% afirmaram não ter interesse em trabalhar;
-
23% estavam ativamente procurando emprego;
-
12% das mulheres não podiam trabalhar devido à responsabilidade com afazeres
domésticos, embora esse trabalho não seja contabilizado como parte da força de
trabalho;
-
Outros 8% estavam envolvidos em cursos ou estudavam por conta própria, o que
revela uma tentativa de qualificação fora dos meios formais de ensino.
Situação
temporária
A
situação dos jovens nesse grupo é majoritariamente temporária. Cerca de 27% dos
considerados "nem-nem", no primeiro trimestre de 2024, já haviam
deixado essa condição no trimestre seguinte, muitos após encontrarem trabalho.
Em
uma análise de longo prazo, 39% dos que estavam sem trabalho e fora da escola
no segundo trimestre de 2023 mudaram de situação no ano seguinte, evidenciando
que grande parte desses jovens está em busca de inserção no mercado de trabalho
ou retomando os estudos.
Para
o economista do Dieese, Gustavo Monteiro, esses dados demonstram que a questão
não é que os jovens não queiram trabalhar, estudar ou se comprometer, mas que
faltam oportunidades.
“O
problema está nas oportunidades que eles têm, que são mais limitadas. Por isso,
em vez de geração ‘nem-nem’, preferimos chamar esses jovens de ‘sem-sem’, sem
trabalho e sem estudo, afirma Monteiro.
O
comportamento da taxa de desocupação dos jovens segue o padrão geral do mercado
de trabalho, porém com índices significativamente mais altos, o que reforça a
falta de oportunidades adequadas para esse segmento. A resposta para essa
questão não está na culpabilização da juventude, mas na criação de políticas
públicas focadas no crescimento econômico, na valorização da educação e na
promoção de empregos formais e estáveis. Estados e muncipios têm a maior parte
dessas responsabilidades, já que, por exemplo, a educação de base é municipal e
estadual. Sem isso, a transição da escola para o mercado de trabalho continuará
sendo um desafio para milhões de jovens brasileiros.
Desigualdade
socioeconômica
O
desafio da transição entre a escola e o trabalho é agravado pela desigualdade
socioeconômica. Entre os jovens que concluíram o ensino médio em 2023, aqueles
oriundos de lares mais ricos tinham maior chance de continuar estudando ou se
qualificando no início de 2024.
Cerca
de 18% desses jovens ingressaram no ensino superior, enquanto apenas 7% dos
jovens de famílias mais pobres seguiram esse caminho. Ainda, 9% dos jovens mais
ricos estavam envolvidos em algum tipo de curso, enquanto essa proporção caía
para 6% entre os jovens de lares mais pobres.
A
busca por emprego também reflete essa disparidade. Cerca de 40% dos jovens de
famílias mais pobres que estavam no terceiro ano do ensino médio em 2023 já
participavam do mercado de trabalho no início de 2024, com 30% empregados e 10%
procurando ativamente uma vaga. Para os jovens de famílias com menos recursos,
a necessidade de entrar no mercado de trabalho é urgente, mas eles encontram
grandes dificuldades para se manterem empregados ou conseguirem estabilidade.
Entre
os jovens de lares mais ricos, esses percentuais eram consideravelmente mais
baixos: 26% e 4%, respectivamente.
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