Alimentos, energia e combustíveis
pressionam os índices de preços, que superam as previsões dos analistas. Saiba
o que fazer – e o que não fazer – para proteger seu dinheiro
Analistas
e economistas, cujo dia-a-dia é acompanhar com lupa o sobe e desce dos números
da economia, tomaram um susto no meio da manhã da terça-feira 23. O Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o Índice de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA) válido para a última quinzena de janeiro e a primeira
de fevereiro, o chamado IPCA-15. E o resultado superou todos os prognósticos. O
índice indicou uma alta de preços de 1,42%, levemente acima do prognóstico mais
pessimista.
Na
média, os especialistas do mercado esperavam um índice ao redor de 1,2%. O
cenário do início deste ano é ruim: em apenas dois meses, janeiro e fevereiro,
os preços subiram mais da metade da meta de inflação prevista para 2016. Para
os mais apressados, os preços parecem estar totalmente fora de controle e o
investidor terá de se esforçar muito para defender seu patrimônio no longo
prazo provocado por uma inflação descontrolada. E agora? A primeira
recomendação é respirar fundo e analisar o cenário com calma.
A
inflação realmente está muito mais acelerada do que se esperaria. Os livros
texto de economia ensinam que fatores como economia em desaquecimento (a
brasileira deve encolher 3,9% neste ano), juros salgados (a Selic permanece em
14,25%) e desemprego em alta (9% em novembro passado, indicando 9,12 milhões de
brasileiros desocupados, e subindo) deveriam desacelerar a alta dos preços. No
entanto, isso não ocorreu, e não deverá ocorrer no curtíssimo prazo. “Mantemos
nossa projeção para a inflação do IPCA de fevereiro em 0,95%, com a taxa em 12
meses recuando para 10,4%”, afirma Elson Teles, economista do Itaú Unibanco.
O
principal motivo para a persistência da inflação, mesmo com uma economia em
retrocesso, vem das alturas. Mais especificamente, das nuvens. “No início de
2015, a inflação se acelerou devido à alta dos preços dos alimentos, pois
choveu pouco e o preço da comida subiu”, diz Pedro Paulo Silveira,
economista-chefe da Nova Futura Corretora. “Agora, está ocorrendo a mesma
coisa, mas porque está chovendo demais.” Silveira avalia que, além da
alimentação, itens como despesas pessoais e energia deverão continuar
turbinando os índices no início deste ano.
Ainda
há espaço para os repasses de custos. Alguns gastos específicos, como as
mensalidades das escolas particulares, chegaram a subir 11%, e esse é um
componente importante no cálculo da inflação. Hora de vender tudo e proteger
seu patrimônio estocando alimentos? Longe disso. A inflação é um problema que
deverá ficar concentrado no curto prazo. Apesar do susto de fevereiro e das más
perspectivas, segundo o levantamento semanal Focus, do Banco Central (BC), a
inflação em 2016 medida pelo IPCA deverá ficar em 7,26%.
Ainda
é um percentual elevado em comparação com a meta, mas bem abaixo dos 10,71% de
2015. Para 2017, o cenário é quase benigno: as expectativas dos bancos que mais
acertam são de bem comportados 6%. Boa parte da alta do início de 2016 é
residual: são os aumentos de energia e de combustíveis do fim do ano passado
ainda influenciando os índices. À medida que esses efeitos pontuais perderem
força ao longo do ano, o dragão vai ficar bem menos feroz. As recomendações dos
especialistas para o investidor que deseja defender seu patrimônio dos preços
descontrolados são bastante simples.
“O
ideal é optar por títulos públicos corrigidos pelo IPCA, que ainda estão
pagando juros elevados”, diz Ernesto Leme, sócio da gestora de recursos
Claritas. “Eles protegem o investidor contra a inflação e ainda pagam uma
remuneração adicional elevada, difícil de encontrar em papéis seguros como os
títulos soberanos.” A maneira mais comum, e bastante conhecida, de comprar
esses papéis é no Tesouro Direto. Porém, o investidor também pode optar pelos
fundos de renda fixa dedicados especificamente a esses papéis, que possuem a
sigla IPCA no nome. E o cenário de um calote da dívida pública pelo governo não
é sequer considerado pelos economistas sérios.
Quem
dispõe de mais recursos, tempo de sobra e a disposição para correr um pouco
mais de risco pode comprar papéis privados com essas características. Podem ser
os ativos de base imobiliária, como os Certificados de Recebíveis Imobiliários
(CRI), ou debêntures de prazos superiores a sete anos. Esses papéis têm uma
grande vantagem, que é a isenção de impostos, que não ocorre no Tesouro Direto.
E uma grande desvantagem: além do prazo longo, de no mínimo sete anos, podendo
chegar a trinta, são papéis muito pouco negociados. Uma vez adquiridos, será
preciso esperar seu vencimento para obter o dinheiro de volta. Os
especialistas rejeitam, de forma unânime, estratégias alternativas para
defender seu dinheiro da inflação.
Uma
delas é investir em ações, apesar de algumas boas empresas listadas na Bolsa
estarem relativamente baratas. “As ações se encaixam em uma estratégia maior de
investimento, mas não são uma boa alternativa para a proteção contra a
inflação”, diz Leme. Optar pelo dólar é uma ideia rejeitada de forma ainda mais
veemente. Um bom argumento de quem defende as aplicações no câmbio é que o
dólar subiu cerca de 42% nos últimos 12 meses. Porém, quem procurou investir no
dólar em 2010 amargou uma queda nominal de 21% nas cotações da moeda americana,
para uma inflação de quase 6% no período. “Nesse caso, o dólar não protegeu
nada, ele reduziu o patrimônio do investidor”, diz Silveira.
Fonte: Contadores.cnt.br
4 de março de 2016
Saiba como proteger seu dinheiro da inflação
4.3.16
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