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31 de março de 2017

Lula sobre a terceirização: 'É mentira que criará empregos ou aumentará o salário'

Em video publicado pelo PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a Projeto de Lei 4.302, que libera a terceirização irrestrita de trabalhadores em qualquer nível das empresas e que foi aprovado pela Câmara no último dia 22. "Eu não me conformo de ver o cinismo dessa gente que aprovou a terceirização, quase que levando os trabalhadores a ficar sem nenhum direito", diz Lula.

O ex-presidente afirma que as propagandas mentem ao dizer que a terceirização criará empregos ou que trabalhadores ganharão mais. "Não há exemplos no mundo de que a terceirização melhorou. Ela vai precarizar as condições de trabalho. Você não pode aceitar retroceder 60, 70 anos atrás", criticou. Ele acrescenta que durantes as crises, o povo trabalhador é "quem paga a conta".

Lula também lembrou da importância da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), promulgada em 1º de maio de 1943, e diz que a PL levará o país ao período anterior à sua criação "Era uma vida de quase escravo, a do trabalhador. Não tinha jornada de trabalho consolidada, os empresários achavam que férias prolongadas era ócio. Agora, com a lei de terceirização, estão levando o Brasil ao passado."

Contra a agenda do governo Temer que retira direitos, como os projetos de reforma trabalhista e da Previdência, centrais sindicais e movimentos sociais que integram as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo saem às ruas, em todo o Brasil, nesta sexta-feira (31). Confira a programação das manifestações.



Fonte: Rede Brasil Atual.

Desemprego bate novo recorde e já atinge mais de 13 milhões no Brasil

O desemprego no trimestre encerrado em fevereiro deste ano bateu novo recorde e chegou a 13,2%, informou o IBGE na manhã desta sexta-feira (31). Pela primeira vez, o número de desempregados ultrapassou os 13 milhões: ao todo, foram 13,5 milhões de pessoas procurando emprego no período. O número representa uma alta de 1,4 milhão com relação ao trimestre encerrado em novembro, quando a taxa de desemprego foi de 11,9%.

Os dados constam da Pnad Contínua, a pesquisa oficial de emprego do instituto. O indicador abrange trimestres móveis. Nesta divulgação, o indicador refere-se a janeiro deste ano e aos meses de dezembro e novembro do ano passado. Em função dos trimestres móveis, o IBGE recomenda comparação de períodos em que não há sobreposição de meses. Neste caso, portanto, a comparação com o trimestre imediatamente anterior é feita com o período de setembro, outubro e novembro.

O desemprego aumentou também na comparação anual do indicador. No trimestre encerrado em fevereiro de 2016, a taxa de desemprego esteve em 10,2%. Em um ano, o número de pessoas na fila do emprego aumentou 3,2 milhões. O rendimento trabalhador ficou estável, tanto na comparação com trimestre anterior quanto com o mesmo trimestre de 2016, em R$ 2.068.

Fonte: Bem Paraná.

Multados dois ex-diretores da Sanepar por compras sem licitação em 2014

O Tribunal de Contas do Estado aplicou seis multas, que em março somam aproximadamente R$ 23 mil, a Fernando Eugênio Ghignone, presidente; e Antônio Hallage, diretor administrativo da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) em 2014. O motivo das multas foram contratações diretas, sem o necessário procedimento licitatório, de produtos e serviços em valores acima dos limites legais. 

A Sexta Inspetoria de Controle Externo do TCE-PR, responsável pela fiscalização da Sanepar em 2014, apurou que, naquele ano, a estatal realizou três pagamentos em afronta ao limite de R$ 16 mil para compras diretas, que não exigem procedimento licitatório, estabelecido pelo artigo 36 da Lei Estadual nº 15.608/09. Essa lei trata de licitações, contratos e convênios no âmbito da administração estadual do Paraná. Na Comunicação de Irregularidade, os analistas da 6ª ICE também apontaram indícios de fracionamento de objeto nas contratações. 

Em 2014, a Sanepar gastou R$ 44.262,72 na compra de 14 modens analógicos, utilizados na automação de sistemas em Apucarana, Cambé e Londrina. Os modens foram adquiridos de dois fornecedores. A empresa também utilizou a compra direta na aquisição de equipamentos de áudio e vídeo, que totalizaram R$ 69.055,84. O terceiro gasto irregular ocorreu no pagamento de um total de R$ 86.443,25, por refeições fornecidas por duas empresas – uma de Curitiba e a outra de São José dos Pinhais.

No total, as contratações diretas e fracionadas somaram R$ 199.761,81 naquele ano. A Comunicação de Irregularidade apontou falta de planejamento e deficiência no Sistema de Contratações Descentralizadas (SCD) da Sanepar como causa da realização das despesas sem licitação acima dos limites legais. Com isso, foram violados os princípios constitucionais da legalidade, da economicidade, da eficiência, da isonomia e da obrigatoriedade de licitação pública. 

Determinação 

A partir da Comunicação de Irregularidade, o TCE-PR abriu processo de tomada de contas extraordinária, para apurar responsabilidades. Na defesa, os ex-gestores da Sanepar alegaram que as contratações diretas foram realizadas de boa-fé e não causaram prejuízo ao cofre estadual. Também argumentaram que as refeições foram compradas para alimentar trabalhadores envolvidos em serviços emergenciais de reparos da rede de água e esgoto realizados fora do horário de expediente. 

Seguindo as instruções da 5ª ICE (atual denominação da unidade responsável pela fiscalização da Sanepar) e da Coordenadoria de Fiscalização Estadual (Cofie) e o parecer do Ministério Público de Contas (MPC-PR), o relator do processo, conselheiro Artagão de Mattos Leão, considerou as contas irregulares. 

Ghignone e Hallage receberam três multas cada um, pelas três contratações diretas em valores acima do permitido pela Lei Estadual 15.608/07. Prevista no artigo 87, parágrafo 4º, alínea d, da Lei Orgânica do TCE-PR (Lei Complementar Estadual nº 113/2005), cada multa equivale a 40 vezes o valor da Unidade Padrão Fiscal do Estado do Paraná (UPF-PR). A UPF-PR tem correção mensal e, em março, vale R$ 95,61. Com esse fator de conversão, cada multa aplicada aos ex-diretores da Sanepar vale, em março, R$ 3.824,40. O total das seis sanções soma R$ 22.946,40. 

Além das multas, o TCE-PR determinou que a Sanepar planeje seus gastos de forma corporativa, para eliminar as contratações diretas do mesmo produto ou serviço que ultrapassem o limite legal anual de R$ 16 mil. A decisão foi unânime entre os conselheiros reunidos na sessão de 23 de fevereiro do Tribunal Pleno. 

Em 20 de março, Fernando Eugênio Ghignone ingressou com recurso contra a decisão emitida no Acórdão 739/17 - Tribunal Pleno, publicado em 10 de março, na edição 1.550 do Diário Eletrônico do TCE-PR. Os Embargos de Declaração serão analisados pelo relator da decisão original e julgados pelo Pleno da corte.

Fonte: Bonde.

28 de março de 2017

Dieese: terceirização reduz salários e reforça desigualdade

O uso ilimitado da terceirização deverá levar a um aprofundamento da desigualdade, com aumento da precarização das condições de trabalho e de remuneração, resultando em piora na distribuição da renda, avalia o Dieese, em nota técnica divulgada sobre o tema. Com base em dados de 2014 e dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) e da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), o instituto aponta taxa de rotatividade maior em atividades tipicamente terceirizadas, que também se caracterizam por salários menores (à exceção do Sudeste) e maior percentual de afastamento em consequência de acidentes de trabalho.

"A adoção da terceirização de forma indiscriminada, no Brasil e no mundo, tem sido olhada de forma crítica. Em alguns casos, o processo tem sido até mesmo revertido por algumas empresas, por afetar a qualidade dos produtos e serviços e fragmentar excessivamente os processos produtivos, levando, inclusive, à queda na produtividade", diz o Dieese. "Portanto, a regulamentação irrestrita da terceirização, baseada somente numa visão de curto prazo, não apenas penaliza o trabalhador, como também pode comprometer o desempenho das empresas, em longo prazo."

"Num momento de profunda crise econômica como o atual, a permissão indiscriminada da terceirização, em vez de ser uma solução, poderá se transformar em risco adicional à retomada do crescimento econômico, do emprego e, especialmente, da saúde financeira do Estado", acrescenta o Dieese. Segundo os técnicos, há outras questões a serem consideradas no debate, como a "segurança laboral" dos atuais e futuros terceirizados, a representação sindical, garantias em caso de rescisão, condições de trabalho, igualdade de oportunidades e arrecadação fiscal/tributária.

Segundo os dados usados pelo instituto, em 2014 havia 12,5 milhões de vínculos ativos em atividades tipicamente terceirizadas (apoio, manutenção, suporte técnico, representantes comerciais e outras) e 35,6 milhões nas consideradas tipicamente contratantes. "Ou seja, essas últimas respondem por cerca de um quarto dos vínculos de trabalhos formais no Brasil", observa.

A alta rotatividade característica do mercado de trabalho no país é "significativamente maior" nas atividades terceirizadas, aponta o instituto. Em 2014, o tempo médio dos contratos era de 34,1 meses (ou dois anos e 10 meses), enquanto nas atividades contratantes esse período era de 70,3 meses, ou cinco anos e 10 meses.

A diferença se observa também em relação aos salários. Em dezembro de 2014, a remuneração média nas atividades contratantes era de R$ 2.639, enquanto nas terceirizadas esse valor ficava em R$ 2.021 (-23,4%). Segundo o estudo, de 2007 a 2014 a diferença se manteve entre 23% e 27%, em média.

Recuo ao século 19, terceirização ampla desmonta sistema de proteção

Ao impor limite de gastos primários e apresentar propostas de reformas trabalhista e previdenciária, o governo simplesmente busca atender a apelos da livre iniciativa e "remover" obstáculos representados por um Estado indutor de crescimento e articulador de políticas públicas. Essa é, em resumo, a filosofia das medidas da gestão Temer, na visão da desembargadora aposentadora Magda Barros Biavaschi, pesquisadora do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas (Cesit-Unicamp).

Como parte desse processo, ela vê a aprovação do Projeto de Lei 4.302, de terceirização irrestrita, "um bárbaro retrocesso, um salve-se quem puder". Um cenário de universidades sem professores, hospitais sem médicos e empresas aéreas sem pilotos. É um momento grave, observa, "em que a gente precisa discutir o modelo de sociedade que queremos".

O discurso da flexibilização como estímulo ao emprego, à produtividade e ao investimento é falacioso, reage Magda. "Nós sabemos, e os estudos mostram, que não há nenhuma evidência empírica com a relação a esse nexo de causalidade", afirma, citando análises recentes da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

"Portanto, não é flexibilizando e retirando direitos que nós vamos enfrentar o problema do desemprego, da competitividade. O pressuposto para isso é a dinamização da economia", diz. "Aqueles países que mais flexibilizaram, mais terceirizaram, são os que perderam competitividade." A alegada "rigidez" é questionada pela pesquisadora – ela afirma que o sistema já privilegia a negociação coletiva (mas para adicionar, e não suprimir, direitos) e que a própria CLT passou por muitas reformas desde que surgiu, nos anos 1940.

A pesquisadora também vê criticamente outro projeto, o PLC 30, em tramitação no Senado, aprovado em 2015 na Câmara como PL 4.330. "Os dois são péssimos, são redutores de direitos, rasgam a CLT e propõem um novo padrão regressivo à ordem liberal do século 19", afirma. No texto aprovado nesta semana, o do projeto 4.302, que também mexe na lei do trabalho temporário (de 1974), ela aponta outros riscos: "O contrato temporário pode ser usado para cobrir necessidades permanentes".

Patamar civilizatório

A retomada do pensamento que Magda chama de "ultraneoliberal" se dá a partir de 2015, quando as forças derrotadas na eleição do ano anterior se juntam ao PMDB e ao então vice-presidente, autor do programa Ponte para o Futuro, que recupera e incorpora essas teses. "A reforma se completa com o negociado sobre o legislado. A lei deixa de ser o patamar civilizatório mínimo", afirma a desembargadora, citando comentário espirituoso do jornalista Mino Carta. "Só não é retrocesso para a Idade Média porque o Brasil não teve Renascimento."

As mudanças também deverão trazer impactos negativos à Previdência, na medida em que se reduz a base de arrecadação. E, ao contrário do que argumentam os defensores do projeto, haverá aumento de conflitos e de judicialização, "porque teremos muitos precarizados, muito mais desempregados".

Ela lembra que o 4.302 foi apresentado – pelo governo Fernando Henrique Cardoso – em 1998, "num período de muita flexibilização dos direitos sociais do trabalho", em um período de desemprego elevado e igualmente com o discurso de que a "rigidez" da legislação inibia contratações. Momento de "avalanche neoliberal", lembra Magda. "Era um modelo de sociedade e de Estado que estava sendo implementado." Nessa onda, apareceu a proposta da prevalência do negociado sobre o legislado, em projeto que chegou a ser aprovado na Câmara, mas acabou arquivado em 2003, no primeiro ano do governo Lula. 

O PL 4.302 é aprovado na Câmara em 2000, vai ao Senado e ganha um substitutivo dois anos depois, mas não é mais discutido. Em 2004, aparece outro projeto sobre terceirização, o 4.330, que avança lentamente, com críticas da Justiça do Trabalho e divisão no meio sindical. Aprovado enfim em 2015, o texto vai para o Senado, como PLC 30, e tem como relator Paulo Paim (PT-RS), que organiza audiências públicas por todo o país. Mas aí vem o processo de impeachment.

Jurisprudência

No campo legal, como não havia legislação específica no país, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) criou em 1986 o Enunciado 256, que em 1993, com alterações, se tornaria a Súmula 331, para regular o tema. "Não é lei, é a cristalização de uma jurisprudência", observa a desembargadora. "Essa súmula passou a normatizar as relações de trabalho para contratação de terceiros", acrescentando, lembrando que o TST proíbe as terceirizações nas chamadas atividades-fim das empresas. Desde então, foram constantes as pressões para cancelar a 331, que chegou a ser ampliada em 2000, para estender a responsabilização do contratante para os entes públicos. 

Um caso paradigmático, lembra Magda, é o da Cenibra, em Minas Gerais. Derrotada na Justiça do Trabalho, a empresa apresentou recurso extraordinário (RE 958.252) ao Supremo Tribunal Federal (STF), questionando a Súmula 331. O caso, de repercussão geral, tem como relator o ministro Luiz Fux. Entrou na pauta pela última vez em novembro do ano passado.

A desembargadora acredita que o tema da reforma trabalhista ainda não "viralizou", como na questão previdenciária, mas que isso já começa a acontecer. "A reforma da Previdência é de fácil compreensão. As pessoas fazem contas, sabem que vão morrer trabalhando e não vão se aposentar", observa. Os projetos trabalhistas têm, em síntese, o objetivo de reduzir custos "pelo sacrifício do trabalhador".

Tanto o 4.302 como o PLC 30 (o 4.330 original) são, em sua definição, "instrumentos malévolos não só aos trabalhadores, mas à economia brasileira". O que acaba de ser aprovado expande a terceirização para todas as atividades, amplia a possibilidade de contratação temporária (e permite a prorrogação), institucionaliza a chamada PJ, retira multa pelo descumprimento de direitos e afeta a organização sindical. A possibilidade de o trabalho temporário ser usado para cobrir necessidades permanentes é visto como um risco: "Num país em que a rotatividade é muito alta, os contratos são de curta duração, permitir isso é um bárbaro retrocesso. Vamos legitimar o gato".

Mesmo em "tempos sombrios" e diante de uma correlação desigual de forças em relação aos que defendem uma sociedade menor desigual, a desembargadora propõe resistência ("O naufrágio de todas as esperanças é a inação", diz, citando expressão do pensador alemão Max Weber). Integrante de um grupo de trabalho no Cesit/Unicamp que reúne pesquisadores e outros especialistas no mundo do trabalho e do Fórum em Defesa dos Direitos dos Trabalhadores e Trabalhadoras Ameaçados pela Terceirização, ela coordena um manifesto que no mês que vem será entregue no Congresso, antes da votação do PL 6.787, de reforma trabalhista – o relatório deverá ser apresentado em 13 de abril. "Essa dita modernidade na realidade é um regresso", diz Magda. "O mundo já mostrou que isso não dá certo."

Centrais acertam mobilização nacional para 28 de abril

As centrais sindicais definiram na tarde de hoje (27) o dia 28 de abril para um novo movimento nacional de protestos e paralisações contra as reformas do governo Temer, incluindo Previdência, legislação trabalhista e terceirização. "Vamos parar o Brasil" é o tema da mobilização, que ocorrerá às vésperas do 1º de Maio e pretende influenciar nas propostas em discussão no Congresso, algumas com votação prevista para o mês que vem. Na próxima sexta-feira (31), a CUT já prevê um dia de protesto, considerado uma preparação para o 28 de abril, quando as centrais esperam ampliar a manifestação do último dia 15.

O acordo ocorreu em reunião na sede da UGT, em São Paulo, com representantes de nove centrais (CGTB, CSB, CSP-Conlutas, CTB, CUT, Força Sindical,  Intersindical, Nova Central e a anfitriã), além do Dieese, incluindo seu diretor técnico, Clemente Ganz Lúcio. Não houve acordo para o uso do termo "greve geral", como a maior parte dos dirigentes defendia. Mas a avaliação unânime foi de que a data nacional de paralisação, no dia 15, superou as expectativas e fez o governo repensar sua estratégia. Os sindicalistas consideram que o noticiário sobre negociação relativa a contribuições sindicais representou uma tentativa de "dividir" o movimento.

Para o presidente da UGT, Ricardo Patah, o governo recuou "porque não imaginava que podia haver o dia 15". Ele avalia que as centrais reconquistaram confiança diante de uma série de propostas "açodadas" por parte do Executivo.

Em nota elaborada pelas centrais, as entidades "conclamam" sindicatos filiados a convocar suas bases a fim de paralisar atividades em 28 de abril, "como alerta ao governo" de que a sociedade e os trabalhadores não aceitam as propostas de reforma que o governo pretende impor ao país. Para os dirigentes, trata-se de "desmonte" da Previdência e de retirada de direitos garantidos pela CLT. Eles também criticam a aprovação do Projeto de Lei 4.302, de terceirização, na semana passada.

Enquanto trabalham para a mobilização de 28 de abril, algumas categorias já preparam manifestações contra as reformas. Trabalhadores do setor de transporte devem se reunir no dia 6, para discutir formas de participação. As manifestações de 15 de março tiveram a presença de motoristas urbanos e metroviários de São Paulo.

Na Câmara, as comissões especiais que analisam a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287, de reforma da Previdência, e o PL 6.787, de reforma trabalhista, continuam se reunindo. Na semana passada, o presidente da Casa, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), estimou que o 6.787 deve ser votado em 30 ou 40 dias. As centrais tentam barrar as propostas do governo.

Trabalhadores dos Correios se mobilizam contra retirada de direitos básicos

Representantes de sindicatos de trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) estão reunidos ontem (27) com o presidente da instituição, Guilherme Campos, em São Paulo. Em pauta, medidas da empresa de restrição de direitos históricos da categoria, como a possível cobrança de mensalidade para a manutenção dos planos de saúde e a suspensão de férias para os funcionários até abril de 2018.

“Suspender férias programadas dos trabalhadores é um absurdo sem tamanho da ECT, porque as férias são direito adquirido, definidos em lei, e têm de ser pagas”, afirma em nota o Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e Similares de São Paulo, Grande São Paulo e zona postal de Sorocaba (Sintect). “O sindicato ajuizará uma ação coletiva em favor dos trabalhadores”, informa, caso o impasse não seja resolvido na reunião de hoje. As medidas foram anunciadas pela administração da empresa.

A ECT argumenta problemas na situação financeira da instituição, o que é rebatido pelo sindicato. “É um absurdo isso se dar em nome (a suspensão das férias) de uma suposta falta de dinheiro, ao mesmo tempo que a ECT torra dinheiro mandando seus vice-presidentes em viagens de turismo à Europa, para aprender como privatizar a empresa, fecha vários contratos de patrocínio e paga uma fortuna para uma empresa estrangeira fazer um plano de saúde, acabando com o dos Correios.”

Para a categoria, a medida visa a “apenas criar pânico”, e faz parte da política de “terras arrasadas” adotada pelo governo de Michel Temer (PMDB). “A ECT não precisava fazer isso, mesmo se tivesse problema de caixa de verdade. As férias terão de ser pagas de qualquer jeito, pois a lei obriga, e não envolvem tanto dinheiro assim para uma empresa do tamanho desta”, afirma. “Essa é a receita do governo Temer”, continua o sindicato.

“Temer quer desregulamentar o trabalho, acabar com a legislação que protege o trabalhador, acabar com a Previdência pública e acabar com as estatais, privatizar tudo. É um governo que está agindo para favorecer ao máximo as empresas e empresários, principalmente estrangeiros (…) E os 'paus mandados' de Temer na direção da ECT querem fazer direito o trabalho sujo, acabando com direitos dos trabalhadores, reduzindo os custos com mão de obra, deixando a empresa enxuta e rentável para privatizar”, afirma o sindicato, ao acusar o governo de abrir espaço para multinacionais do setor postal, como a DHL, Fedex e UPS.

A categoria encontra-se em estado de greve desde o dia 15 contra as medidas. “A greve é contra o governo Temer e suas propostas de reforma da Previdência e Trabalhista, que acabam com direitos dos trabalhadores. E contra a direção dos Correios, que com sua intenção de cobrar mensalidade no plano médico também acaba com um direito conquistado com muita luta pela categoria”, completa a entidade. 

24 de março de 2017

QUEREMOS A SUSPENSÃO DO CONCURSO PÚBLICO DO IML! ENTENDA O MOTIVO...

O Sindicato dos Químicos do Estado do Paraná protocolou ontem (23) ação ordinária de fazer com pedido de tutela provisória de urgência, insurgindo-se contra ato do Presidente da Comissão de Concurso da Polícia Científica do Estado do Paraná (IML), pretendendo a alteração do edital de concurso nº 001/2017, para provimento de 54 (cinquenta e quatro) vagas para o Quadro Próprio dos Peritos Oficiais do Estado do Paraná – QPPO, dentre elas para o cargo de QUÍMICO LEGAL E TOXICOLOGISTA, com a consequente reabertura do prazo para inscrições.

O concurso em questão prevê que as vagas de Químico Legal e Toxicologista podem ser preenchidas apenas por graduados em Farmácia ou Biomedicina. Da forma como o edital fora inicialmente lançado, estão excluídos do concurso os profissionais de nível superior da área de Química (bacharéis em Química, licenciados em Química, Químicos Industriais e Engenheiros Químicos).

Por meio da ação proposta, pretende-se a suspensão da realização da prova, a qual ocorrerá no próximo domingo, dia 26/03/207, e ainda a reabertura das inscrições, com a inclusão dos profissionais de nível superior da área de Química. Isso porque as descrições das atividades estabelecidas em edital para os cargos de Químico Legal e Toxicologista possuem similitude com as atribuições instituídas no Decreto nº 85.887, de 7/03/1981, e também nos artigos 334 e 335 da Consolidação das Leis do Trabalho.

O Presidente do Sindicato dos Químicos reforça ser fundamental que a entidade não permaneça insensível em face de pretensas lesões aos interesses de seus representados. Elton Evandro Marafigo declara que “é importante a valorização do profissional da Química, o qual não pode ser esquecido em concursos públicos tal como o promovido pelo IML”.


Karina Giselli Pimenta Jorge
Advogada 
http://lattes.cnpq.br/8823998322590356

23 de março de 2017

Câmara aprova projeto que permite terceirização irrestrita

A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (22) por 231 votos a favor, 188 contra e 8 abstenções o texto-base do projeto de lei que autoriza o trabalho terceirizado de forma irrestrita para qualquer tipo de atividade.

Os principais pontos do projeto são os seguintes:

  • A terceirização poderá ser aplicada a qualquer atividade da empresa. Por exemplo: uma escola poderá terceirizar faxineiros (atividade-meio) e professores (atividade-fim).
  • A empresa terceirizada será responsável por contratar, remunerar e dirigir os trabalhadores.
  • A empresa contratante deverá garantir segurança, higiene e salubridade dos trabalhadores terceirizados.
  • O tempo de duração do trabalho temporário passa de até três meses para até 180 dias, consecutivos ou não.
  • Após o término do contrato, o trabalhador temporário só poderá prestar novamente o mesmo tipo de serviço à empresa após esperar três meses.

A oposição apresentou seis destaques (proposições para modificar pontos do texto), todos rejeitados. Com isso, o projeto seguirá para sanção presidencial.

Dentre os 188 votos contrários à proposta, muitos foram de deputados governistas. Em sete dos principais partidos da base aliada, por exemplo, houve 56 votos contrários. Na bancada do PSDB, 11 votaram contra. No PMDB, partido do presidente Michel Temer, foram 10, além de 7 do DEM, 7 do PP, 10 do PR, 5 do PPS e 6 do PSD, todas legendas da base aliada do governo.

Enviada ao Congresso pelo governo Fernando Henrique Cardoso em 1998, a proposta já havia sido aprovada pela Câmara e, ao passar pelo Senado, sofreu alterações. De volta à Câmara, o texto aguardava desde 2002 pela análise final dos deputados.

Em 2015, a Câmara aprovou um outro projeto, com o mesmo teor, durante a gestão do ex-presidente da Casa Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O texto foi enviado para análise do Senado, mas ainda não foi votado.

Atualmente, não há legislação específica para regular a terceirização. O entendimento da Justiça do Trabalho é que a prática só é possível em atividades secundárias das empresas, também chamadas de atividades-meio. Atualmente, não são terceirizados trabalhadores das atividades-fim (as atividades principais das empresas).

Embora o texto não use diretamente esses conceitos, se a lei for sancionada por Temer, haverá permissão para terceirização de qualquer atividade.

Dessa forma, uma escola, por exemplo, poderá contratar de forma terceirizada tanto faxineiros e porteiros (atividades-meio) quanto professores (atividade-fim).

O projeto aprovado pela Câmara não prevê vínculo de emprego entre a empresa contratante dos serviços e os trabalhadores terceirizados. Mas o texto estabelece que a "empresa-mãe", que contrata a terceirizada, responda de forma subsidiária se o trabalhador não conseguir cobrar direitos devidos pela empresa que o contratou.

A empresa terceirizada será responsável por contratar, remunerar e dirigir seus trabalhadores, que prestarão serviços a terceiros. Será permitido ainda que a terceirizada subcontrate outras empresas.
A contratante, por sua vez, deverá garantir segurança, higiene e salubridade dos trabalhadores em suas dependências.

O projeto também ampliou o prazo de duração do contrato de trabalho temporário dos atuais três meses para seis meses, prorrogáveis por mais três meses.

Pelo texto aprovado, após o término do contrato, o trabalhador só poderá prestar novamente esse tipo de serviço à mesma empresa após esperar um prazo de três meses.

Deputados

O relator da matéria, deputado Laercio Oliveira (SD-SE), defendeu a aprovação do projeto. Segundo ele, foi retirado do texto o trecho que concederia anistia aos débitos, penalidades e multas anteriores à lei.

Para o deputado, a proposta é positiva para o trabalhador. “Me apontem um item do texto que retire direitos do trabalhador. Não existe”, disse.

Durante a sessão, partidos de oposição tentaram obstruir a tramitação, apresentando requerimentos, por exemplo, para que as votações fossem nominais e a análise do texto, adiada.

“Não é garantir direito do trabalhador terceirizado. É terceirizar toda e qualquer atividade do mundo do trabalho, precarizando as relações de trabalho e precarizando direitos”, afirmou o líder do PSOL, Glauber Braga (RJ).

A favor

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) é uma das entidades empresariais que defendem a proposta. A instituição afirma que a separação entre atividade-meio e atividade-fim é aplicada apenas no Brasil e traz insegurança jurídica.

“A dicotomia entre fim e meio, sem uma definição certeira do que é uma coisa ou outra, motiva conflitos e aumenta a distância entre o Brasil e outros países. No mais, a escolha do que terceirizar deve ser da própria empresa”, afirmou Sylvia Lorena, gerente-executiva de Relações do Trabalho da CNI.

Contra

A proposta é criticada pela Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), que vê a liberação da terceirização irrestrita como inconstitucional.

Para a entidade, o texto apresenta inconsistências ao criar uma norma legal dizendo que a pessoa não se enquadra como empregado, embora o seja.

Outro problema apontado pela Anamatra é que o texto exclui a responsabilidade do tomador de serviços, mesmo no caso de terceirização lícita, "quebrando a proteção decorrente do pacto social".

Fonte: G1.

22 de março de 2017

ACT, PAI, PDVTC e direitos das pessoas com deficiência foram temas de reunião com a Sanepar

Elton Evandro Marafigo (Siquim) e Gerti José Nunes (Saemac) estiveram reunidos ontem (21) com o presidente da Sanepar Mounir Chaowiche e o diretor administrativo Luciano Valério Bello Machado para discutir diversos assuntos, entre eles o ACT, PAI, PDVTC e os direitos das pessoas com deficiência.

Sobre o Acordo Coletivo de Trabalho, cobramos da empresa um posicionamento, considerando que já protocolamos a pauta de reivindicações há algum tempo e também já realizamos uma primeira rodada de negociações; mas ainda não recebemos contraproposta. No entanto, o presidente da Sanepar garantiu que convocará todos os sindicatos ainda esta semana para a apresentação da 1ª proposta.

Também procuramos sensibilizar a companhia para a “Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência”, um tratado internacional assinado em 30 de março de 2007 e ratificado pelo Brasil em 1º de agosto de 2008; que assegura, entre outros direitos, a flexibilidade de horários. Com base neste documento, foi realizada uma alteração no Estatuto dos Servidores Públicos Federais e o que queremos é estender isso para o âmbito dos celetistas sem a necessidade de recorrer a meios judiciais. Quanto a isso, o presidente Mounir sinalizou positivamente e disse que vai realizar um estudo interno em cima desta questão.

Outro tópico abordado por Elton Evandro Marafigo foi o Programa de Aposentadoria Incentivada (PAI); que foi encerrado em fevereiro e, até aquele momento, não houve acordo por parte dos sindicatos devido às cláusulas que retiravam direitos constitucionais dos trabalhadores, como a renúncia ao ingresso com ações judiciais individuais e/ou coletivas. 

No entanto, enquanto conselheiro da Sanepar, Elton continuou tratando desta questão nas reuniões do CAD e também do CCEE (Conselho de Controle das Empresas Estaduais) e, inclusive, fez um pedido de reabertura não apenas do PAI, mas também do PDVTC, desde que sejam excluídas as cláusulas prejudiciais aos empregados da companhia. 

O CCEE e o CAD concordaram com a alteração e, na reunião de ontem, apresentamos esta situação ao presidente Mounir que afirmou que defenderá, junto ao Governo, as mudanças e a reabertura dos dois programas.

Ficamos, agora, no aguardo da data que a Sanepar escolherá para a próxima reunião com os sindicatos a respeito do ACT. 

21 de março de 2017

TEMER PEDE MELHOR COMUNICAÇÃO NA CÂMARA PARA APROVAR REFORMA DA PREVIDÊNCIA

O presidente Michel Temer pediu aos ministros que intensifiquem o debate sobre a reforma da Previdência em suas bases partidárias na Câmara dos Deputados e aperfeiçoem a comunicação na base governista. Temer e o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, se reuniram com os ministros no Palácio do Planalto no final da tarde de ontem (20).

“O governo precisa ampliar sua capacidade de comunicação e esclarecimento junto à sociedade e, ao mesmo tempo, convencer a base do governo de que a reforma é vital para o Brasil e creio que isso seja possível. A gente tem que melhorar a comunicação”, disse o ministro da Educação, Mendonça Filho, após a reunião.

Mendonça Filho, em entrevista coletiva, disse que o Brasil “pode virar uma Grécia” caso não aprove a reforma no Congresso Nacional. Segundo ele, o tema encontra resistência em “corporações bastante mobilizadoras, fortes”, que rebatem os argumentos do governo.

Apesar de reconhecer que o texto saído do Planalto não será aprovado sem alterações, Mendonça Filho reforçou que não há espaço para “grandes modificações”. “Não quer dizer que o Parlamento não possa contribuir para o aprimoramento da proposta, mas grandes modificações podem comprometer a eficácia da reforma da Previdência”.

Presente na reunião, o líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), seguiu um raciocínio parecido com o de Mendonça Filho e disse que o Congresso não pode “desfigurar a reforma”, alterando o texto a partir do pedido de cada categoria trabalhista. “O sentimento que temos que ter é de nação”. O deputado disse que a meta do governo é aprovar a matéria na comissão especial em abril e que há “muita desinformação” a respeito da reforma.

Na avaliação na base do governo na Câmara, o discurso tem que ser aprofundado para esclarecer que o brasileiro “não vai morrer trabalhando”, como disse Ribeiro, em alusão a argumentos da oposição e de deputados da base aliada que têm criticado a reforma.

20 de março de 2017

Câmara se prepara para votar terceirização. Centrais vão a Brasília

O destaque na pauta de amanhã (21) da Câmara dos Deputados é o Projeto de Lei 4.302, de 1998, que permite a terceirização de todas as atividades das empresas. É considerado pelas centrais sindicais pior que o PL 4.330, aprovado anteriormente e agora em tramitação no Senado (PLC 30) – com dificuldade em aprovar esse texto, o governo passou a priorizar o projeto de 1998, apresentado em 19 de março daquele ano. Os sindicalistas se mobilizam para estar em peso nesta terça em Brasília. A CUT fala em "ocupar" o Congresso.

"No último dia 6, quando nos encontramos com o Rodrigo Maia (DEM-RJ, presidente da Câmara dos Deputados), dissemos para ele que poderia entrar para a história como quem colocou fim a 70 anos de conquista da classe trabalhadora. E a resposta dele foi que conhecia a posição da CUT, respeitava, mas não concordava e iria votar na terça", afirmou o secretário-geral da central, Sérgio Nobre. "Ou colocamos muitos trabalhadores na porta do Congresso ou veremos esses parlamentares rasgarem de vez a CLT."

Nesta segunda-feira, durante evento em São Paulo, o presidente da Câmara se disse "confiante" para votar o PL 4.302 entre amanhã e quarta-feira. E também projetos de interesses do governo. "Em abril nós vamos aprovar a reforma trabalhista, a modernização das leis trabalhistas, o nome que seja", afirmou, citando ainda a reforma da Previdência, para a qual espera definição no início de maio.

Em 19 de agosto de 2003, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu primeiro ano de mandato, enviou mensagem ao Congresso (389/03) solicitando a retirada do PL 4.302. Vários presidentes passaram pela Câmara desde então, inclusive do PT, partido de Lula, e a mensagem nunca foi lida. O projeto ficou esquecido até ser retomado, no final de 2016.

O relator foi o deputado Laércio Oliveira (SD-SE), vice-presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Aprovado em 2000, o projeto foi para o Senado, onde foi relatado em 2002 por Edison Lobão (PMDB-MA). Como teve alterações, voltou para a Câmara.

Reforma

Em certa medida, o PL 4.302 influencia o projeto de reforma trabalhista (6.787) do governo, que trata também de trabalho temporário. Na semana passada, o relator da reforma, deputado Rogério Marinho (PSDB-RN), declarou durante encontro com empresários do setor de serviços que, caso o 4.302 seja aprovado "talvez a gente não precise levar em consideração o que o governo nos mandou". Entidades do setor dizem ter "fechado questão" em torno do projeto de 1998.

O movimento sindical desencadeou uma campanha contra o PL 4.330, que acabou aprovado na Câmara e seguindo para o Senado como PLC 30, agora sob relatoria de Paulo Paim (PT-RS). Com dificuldade para aprová-lo da forma como estava, o governo e sua base articularam a retomada de um projeto praticamente engavetado.

Em audiência pública realizada hoje pela Comissão de Direitos Humanos e Participação Legislativa do Senado, para discutir a reforma trabalhista, o diretor de Assuntos Legislativos da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Luiz Colussi, disse que o momento é de "desmonte" da Justiça do Trabalho e dos direitos sociais, e do próprio Estado democrático brasileiro. Não é uma minirreforma, como diz o governo, mas "uma ampla reforma, que permitirá uma livre negociação em pontos essenciais da regulação do trabalho e querem a desregulação total do mundo do trabalho".

16 de março de 2017

Idade mínima? Tempo de contribuição? Como funciona a aposentadoria em outros países

Movimentos sociais e sindicais foram às ruas nesta quarta-feira (15), em todo Brasil, protestar contra a proposta de reforma da Previdência apresentada pelo governo de Michel Temer (PMDB). Mas, e lá fora, como funciona o sistema de aposentadoria? Há idade mínima? O cálculo é feito pelo tempo de contribuição? Saiba como é:

Estados Unidos

Nos Estados Unidos, a idade mínima para se aposentar, que era de 66 anos em 2014, subirá gradativamente até 2022 para 67. A elegibilidade para o benefício depende do número de anos de contribuição, sendo o mínimo necessário de 10 anos. Segundo dados da Administração de Seguridade Social, no país, é possível antecipar a aposentadoria para os 62 anos, mas com recebimento do valor parcial. Ou adiar até os 70 anos, com o acréscimo do benefício.

França

A reforma da previdência realizada em 2010 prevê idade mínima entre 60 e 62 anos em 2017, dependendo do ano de nascimento do contribuinte. No entanto, neste caso, o valor do benefício é parcial.   Para obter o valor integral, a idade mínima passará de 65 para 67 até 2022. Atualmente, o tempo de contribuição exigido é de 172 trimestres.

Alemanha

Na Alemanha, a idade é de 65 anos e dois meses, com um mínimo de cinco anos de contribuição. Até 2022, esse patamar será elevado para 67 anos.

Dinamarca

O sistema de aposentadoria da Dinamarca, considerado por especialista como um dos melhores do mundo, combina benefícios pagos pelo Estado com sistemas de previdência obrigatórios entre empresas e funcionários.
No país, não há tempo mínimo de contribuição, mas o valor do benefício leva em conta os anos de pagamento no mercado de trabalho. Atualmente a idade mínima sairá de 65 anos para 67 anos entre 2024 e 2027 ao ritmo de seis meses por ano.

Itália

Na Itália, a idade mínima é de 66 anos, mas irá subir para 67 até 2019. No entanto, no ano passado, foi definido, que a partir de 1º de maio de 2017, os contribuintes poderão antecipar a aposentadoria. O benefício, chamado de "Ape" (acrônimo de "anticipo pensionistico"), poderá ser pedido por contribuintes com pelo menos 63 anos, ou seja, três anos e sete meses antes da aposentadoria por idade definida pela legislação, no caso dos homens, ou dois anos e sete meses para as mulheres.

Contudo, o italiano que antecipar a aposentadoria sofrerá uma redução de até 5% no valor bruto pago pela Previdência Social para cada ano adiantado. Também é preciso ter pelo menos 20 anos de contribuição.

Portugal

Em Portugal, a idade mínima para aposentadoria é de 66 anos, com no mínimo 15 de contribuição. No entanto, trabalhadores com 65 anos ou mais que permanecem trabalhando têm diminuição da contribuição previdenciária, como uma maneira de incentivá-lo.

Espanha

O país aprovou recentemente aumento da idade mínima, que passou de 65 para 67 anos, com a alteração sendo feita entre 2013 a 2027. Em 2017, é possível se aposentar aos 65 tendo cumprido 36 anos e 3 meses de contribuição.

Japão

No Japão, que tem expectativa de vida de 84 anos, a idade mínima, tanto para homens como para mulheres, é de 65 anos, e o tempo de contribuição é de 40 anos.

Argentina

Na Argentina, a idade mínima para se aposentar é de 60 anos para a mulher e 65 para os homens. Além disso, o trabalhador argentino precisa ter contribuído durante 30 anos e o valor do benefício é definido pela média dos últimos 10 anos.

Chile

A idade para se aposentar no Chile é igual a dos argentinos, porém lá o trabalhador pode continuar empregado e receber tanto seu salário como o benefício. No entanto, o sistema de aposentadoria, privatizado durante a ditadura, chega a pagar menos que o salário mínimo aos pensionistas.

Canadá

Assim como atualmente é no Brasil, o Canadá adota um teto para o benefício pago na aposentadoria. O plano de previdência do governo exige uma contribuição de 35 anos e o trabalhador só garante o valor máximo a partir dos 65.

Colômbia

Na Colômbia, a idade subiu de 60 para 62 anos para homens e de 55 para 57 anos para mulheres.

Grécia

Na Grécia, estabeleceu-se em 2012 que a idade mínima passará de 65 para 67 anos para ambos os sexos, enquanto a contribuição subiu de 37 para 40 anos. No entanto, a partir de 2020, a contribuição será definida levando-se como base a expectativa de vida. 

13 de março de 2017

Movimentos apostam no 15 de março para barrar 'reformas' de Temer

Centrais sindicais e movimentos populares apostam no dia nacional de paralisação, nesta quarta-feira (15), para influenciar as votações no Congresso – com maioria governista, mas bases divididas – contra as propostas de reformas trabalhista e da Previdência Social. "Temos condições de transformar o 15 de março numa trincheira em defesa da aposentadoria como política pública e parte da seguridade social e não um ativo para ser comprado em agência bancária", diz o presidente da CUT, Vagner Freitas, para quem a mobilização nos estados, via comitês, ajuda a pressionar os parlamentares. Segundo ele, as reformas complementam o golpe iniciado com o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

Diversas categorias profissionais já confirmaram participação nos atos, paralisações e protestos da próxima quarta, em todo o país. Inclusive do setor de transporte. Na cidade de São Paulo, motoristas e cobradores de ônibus já aprovaram paralisação da 0h até as 8h, enquanto os metroviários pretendem parar durante todo o dia – o sindicato da categoria realizará assembleia amanhã (14) à noite. Os metroviários de Belo Horizonte também aprovaram paralisação de 24 horas. Para hoje à tarde, está programada uma plenária que discutirá a participação de trabalhadores nas regiões do ABC, Guarulhos e Osasco, na região metropolitana paulista.

Professores estaduais e municipais (capital) também param na quarta-feira. No primeiro caso, a Apeoesp fará assembleia na Praça da República, região central, com deslocamento para a Avenida Paulista, onde está previsto ato unitário a partir das 16h. Os municipais terão assembleia no Viaduto do Chá, diante da sede da prefeitura. Docentes da rede particular em Campinas e Sorocaba, no interior, também aderiram ao movimento. Em congresso, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) já havia aprovado greve da categoria no dia 15.

Também estão previstas paralisações dos trabalhadores da Universidade de São Paulo (Sintusp), servidores federais (Sindisef) e do Judiciário (Sintrajud). Bancários, eletricitários, funcionários dos Correios, metalúrgicos e químicos nas bases de diversas centrais vão fazer paralisações, parciais ou durante todo o dia. 

Em entrevista coletiva marcada para amanhã, as frentes Brasil Popular e Povo sem Medo vão detalhar a agenda de manifestações de quarta-feira. Além do ato da Paulista, há concentrações confirmadas na Praça da Estação, em Belo Horizonte (10h), e em Brasília, diante da Catedral, a partir das 8h. No Rio de Janeiro, a concentração está programada para as 16h, na Candelária, região central. Em Curitiba, os organizadores confirmam manifestação para as 9h na Praça Santo Andrade, no centro.

No Congresso

Enquanto isso, as reformas seguem em discussão na Câmara dos Deputados. Amanhã (14), às 14h30, e quinta (16), às 9h30, haverá novas reuniões da comissão especial que discute a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287, de reforma da Previdência. Nesses mesmos dias, às 14h30 e às 9h, também se reúnem os parlamentares que analisam o Projeto de Lei 6.787, que propõe mudanças na legislação trabalhista. As centrais se dividem entre apresentar emendas e vetar integralmente os textos governistas.

Ambas as propostas serão alteradas, tanto nas comissões como em plenário, afirma o analista política Marcos Verlaine, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). "A reforma da Previdência, como está formatada, não passa no Congresso Nacional, nem na Câmara e nem tampouco no Senado. Como o governo pesou muito a mão quando elaborou a proposta, o Legislativo não terá como não fazer adequações, mudanças e aperfeiçoamentos no texto, pois se assim não fizer, os projetos eleitorais e reeleitorais dos congressistas estarão ameaçados", escreveu em artigo.

Em relação ao PL 6.787, a avaliação é menos otimista. Para o assessor parlamentar, o texto será alterado para pior. "A PEC 287 é criticada por todos, da base do governo à oposição. A trabalhista não. Só a oposição faz críticas ao texto do governo. Isto é um indicativo objetivo que o projeto será 'turbinado' pela maioria da Câmara." Segundo Verlaine, a bancada empresarial no Congresso trabalha para tornar o projeto menos "tímido", citando definição do próprio presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Conta de água deve subir 5,7% no primeiro semestre no Paraná

A Agência Reguladora do Paraná (Agepar) propôs um índice de 25,63% para a revisão tarifária periódica da Sanepar. O valor, no entanto, deve ser diluído ao longo de oito anos, a partir de 2017. Ou seja, o índice não deve ser aplicado de uma única vez na conta de água.

De acordo com o diretor-presidente da Agepar, Cezar Silvestri, essa é a primeira revisão tarifária da Sanepar desde que a regulação passou a ser feita pela agência. Segundo ele, a Sanepar sugeriu um reajuste de 33%, que foi reduzido pela Agepar para 25,63% e ainda garantiu que haverá o parcelamento do índice.

“Estamos fazendo a primeira revisão tarifária, que é um dispositivo legal. O Paraná é um dos últimos estados a fazer. Foi feita uma análise e esse aumento da tarifa, em função dessa revisão tarifária, seria na ordem de 25,63%. Como achamos que é um reajusta elevado, estamos diferindo esses 25,63% para que seja diluído ao longo dos próximos 8 anos”, disse.

Segundo Cezar Silvestri, o primeiro aumento na tarifa de água será, em média, de 5,7%, e entrará em vigor a partir de abril ou maio. Além disso, segundo ele, haverá um reajuste inferior à inflação para os consumidores de baixa renda. “Os consumidores de baixa renda, 44% dos consumidores de baixa renda, terão aumento menor do que a inflação. E aqueles que consomem até 5m³ terão uma redução de 5%, ou seja, um ajuste negativo”, disse.

Antes de uma decisão final sobre a revisão tarifária da Sanepar, a Agepar vai realizar uma audiência pública no próximo dia 24. Além disso, a população já pode opinar sobre o assunto através de uma consulta pública, disponível no site.

O reajuste da tarifa de água também foi tema de uma audiência pública na Assembleia Legislativa. Deputados da oposição criticaram o índice superior a 25%. Tadeu Veneri, do PT, pretende levar a discussão para o Ministério Público.

8 de março de 2017

'Reforma excluirá da Previdência boa parte da população rural, especialmente as mulheres'

A inclusão dos trabalhadores e trabalhadoras rurais na Previdência Social a partir da Constituição Federal de 1988, representou uma profunda transformação no padrão de proteção social brasileiro. Esse mudança beneficiou particularmente as mulheres que vivem e trabalham no campo. Até então, elas eram consideradas como "do lar", que ajudavam o marido. Na verdade, desempenhavam (e seguem desempenhando) uma tripla jornada de trabalho que envolve a manutenção da casa, do espaço rural em torno da casa e também da produção que gera renda para a família. Essa foi a razão pela qual a aposentadoria das trabalhadoras rurais foi fixada em 55 anos de idade.

A Reforma da Previdência, proposta pelo governo de Michel Temer, acaba com essa regra, estabelecendo a idade mínima de 65 anos, com tempo mínimo de contribuição de 25 anos para a aposentadoria. "Isso significa excluir do sistema da Previdência boa parte da população rural, especialmente as mulheres", diz Roberta Coimbra, dirigente estadual do setor de gênero do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Rio Grande do Sul.

Assentada em Piratini há 16 anos, Roberta, além de coordenar o setor de gênero do MST, faz parte de um grupo de produção de sementes agroecológicas e ervas medicinais ligado à Cooperativa Bionatur, trabalha com ervas medicinais e participa de feiras de produtos agroecológicos pelo Estado. Em entrevista ao Sul21, ela fala sobre o impacto do projeto da Reforma da Previdência sobre os trabalhadores em geral, e sobre as trabalhadoras rurais em especial. "Uma das faixas que vamos carregar na marcha do dia 8 de março diz: ‘Aqui estão homens e mulheres que nunca chegarão à aposentadoria’, afirma, referindo-se a mobilização unificada de sindicatos e movimentos sociais rurais e urbanos, no Dia Internacional da Mulher, que, em Porto Alegre, iniciará às 5h30min da manhã, na ponte do Guaíba.

Qual sua avaliação sobre a proposta de Reforma da Previdência proposta pelo governo Temer e quais os seus impactos sobre a vida das mulheres que vivem e trabalham no meio rural?

Há muitas décadas, mesmo antes da própria existência do Movimento Sem Terra, existe uma luta pela visibilidade da mulher do campo. As nossas matriarcas, assentadas mais antigas do MST, fizeram parte dessas lutas nas décadas de 80 e 90, ajudando a manter acampamentos em diversas partes do Estado, participando inclusive de uma greve de fome na Praça da Matriz. Vários movimentos e sindicatos participaram dessa luta para que as mulheres rurais fossem reconhecidas enquanto trabalhadoras. Até então, elas eram vistas como "do lar", que ajudavam o marido. Na realidade não é isso o que acontece. Se as mulheres urbanas fazem dupla jornada, as mulheres rurais fazem tripla jornada. Além da manutenção da casa e da família, há toda a manutenção do espaço rural no entorno da casa, além do trabalho com a produção em si responsável pela geração de renda da família.

A nossa participação na Previdência Social como trabalhadoras é uma conquista recente. A forma como os trabalhadores e trabalhadoras rurais participam da Previdência se dá por meio do recolhimento de 2% no momento da comercialização do produto agrícola. A totalidade desses recursos arrecadados em todo o Brasil representa uma quantia bastante considerável que supera o que é gasto com a Previdência de trabalhadoras e trabalhadores rurais. Pela mudança que está sendo proposta agora, além desse recolhimento de 2%, cada indivíduo no meio rural terá que pagar, durante 25 anos, um boleto mensal equivalente a 5% do salário mínimo, o que hoje daria algo em torno de 47 reais. Pensando numa família de quatro pessoas, ela teria que dispor mensalmente de aproximadamente 200 reais, só para cumprir essa exigência. A realidade do pequeno agricultor não permite bancar isso.

Apenas alguns integrantes da família poderão pagar esse valor, o que significa que nem todos terão direito à aposentadoria. Além disso, a pessoa só poderá receber benefícios como auxílio maternidade e auxílio doença se estiver em dia com o pagamento desse boleto. Isso significa excluir do sistema da Previdência boa parte da população rural, especialmente as mulheres.

Este ano, a Reforma da Previdência será um dos temas centrais das mobilizações em torno do 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Como está sendo pensado esse dia?

O 8 de março, além de ser o Dia da Mulher, é também uma data em que debatemos as formas de violência. Consideramos essa proposta de Reforma da Previdência como uma forma de violência institucional contra as trabalhadoras rurais e urbanas. E entre todos os afetados por essa reforma, as trabalhadoras rurais serão as mais penalizadas. Além da exigência de pagamento desse boleto mensal de 5% do salário mínimo, seremos penalizadas com dez anos a mais de trabalho. O trabalho na agricultura é um dos mais pesados para a saúde do corpo. A gente faz uma força e trabalha muitas vezes em ambientes insalubres. É por essa razão que a idade de aposentadoria para as trabalhadoras rurais foi fixada em 55 anos. Agora, as condições de trabalho no meio rural estão sendo completamente desconsideradas pelos autores dessa proposta de reforma.

Na média, as mulheres começam a trabalhar com que idade no meio rural?

Em média, com 10, 11 anos, já têm algumas tarefas para cumprir. Nós estamos fazendo esse debate dentro dos assentamentos para criar um ambiente diferente, incluindo os jovens na produção, mas com qualidade de vida, documentação e renda. Nós temos vários jovens, hoje, de 14, 15 anos, envolvidos com a produção de sementes agroecológicas. As gerações passadas não tinham nenhuma regra para o trabalho infantil. As pessoas dessas gerações, com 40 anos, já apresentam problemas de saúde. As mulheres mais ainda.

Em geral, no Brasil, não existe esse debate. O trabalho escravo segue sendo uma realidade em vários locais. Até bem pouco tempo, tínhamos um programa que estava avançando na questão da documentação, especialmente de trabalhadoras rurais. Só no Rio Grande do Sul foram mais de um milhão e meio de documentos novos, em sua maioria de mulheres. No meio rural, falta uma cultura do documento, principalmente no que diz respeito ao trabalho das mulheres. Há muitas mulheres que trabalharam a vida inteira e nunca tiveram um documento. Essa é uma realidade presente em praticamente todo o país. Por isso se instituiu o trabalho por idade na aposentadoria rural. Com a proposta de Reforma da Previdência feita agora, desaparecerá a figura do agricultor. Todos virarão autônomos. O que valerá será o pagamento do boleto mensal.

Pelas conversas que vocês já fizeram com trabalhadores e trabalhadoras rurais, é possível perceber uma consciência do significado e dos impactos dessa proposta da Reforma da Previdência?

Para os que seguem apenas os meios de comunicação oficiais, ainda há uma grande dificuldade de entendimento sobre a gravidade dessas mudanças, especialmente no meio rural. O MST, a Via Campesina e vários sindicatos e organizações urbanas e rurais estão se mobilizando para levar essas informações para as pessoas. Estamos indo às comunidades para conversar com a população e convidá-la a participar da mobilização contra a reforma. Isso está ocorrendo em todo o Brasil, unificando muitas lutas e setores para a mobilização do dia 8 de março quando devem ocorrer várias ações para denunciar essa situação.

Já estão unificados em torno dessa luta movimentos sociais pela reforma agrária, Movimento dos Atingidos por Barragens, Movimento das Mulheres Camponesas, MTD, professores, servidores da saúde, municipários e inclusive representantes de partidos que apoiam o governo atual. Há muitos vereadores e prefeitos que sabem que essa reforma vai quebrar muitos municípios. Hoje, em muitos municípios, uma das principais fontes de renda que faz girar o comércio local vem do pagamento das aposentadorias. Boa parte dos nossos pequenos municípios tem a Previdência como sua primeira ou segunda renda. Esse debate precisa ser aprofundado, pois nem dentro desses partidos há consenso sobre a proposta de reforma.

Há uma necessidade de fazer mudanças na Previdência, mas é preciso considerar o sistema como um todo, principalmente as empresas que devem ao governo e a situação de categorias que são super protegidas e recebem uma boa fatia do que é recolhido, como os militares, o Poder Judiciário e os próprios políticos. Estes setores não serão atingidos, ao contrário de trabalhadores que passam a vida inteira recebendo um salário mínimo. Não há um rombo na relação entre o que é recolhido pelos trabalhadores e o que retorna para eles na aposentadoria. Se há um rombo é por conta das empresas que devem milhões ao governo e que serão praticamente anistiadas caso a atual proposta de reforma seja aprovada. Se precisamos mexer na Previdência Social, devemos começar por aí. Uma das faixas que vamos carregar na marcha do dia 8 diz: "Aqui estão homens e mulheres que nunca chegarão à aposentadoria".

Como está sendo pensada a mobilização contra esse projeto do governo Temer?

Diferentemente do que ocorreu em outros 8 de março, não teremos mobilizações separadas. Os movimentos de mulheres da cidade e do campo estarão unificados. Estamos enfrentando um inimigo comum e esse tema unifica as nossas lutas. Essa jornada iniciará às cinco e meia da manhã na ponte do Guaíba e se estenderá até à noite. Os diversos movimentos e entidades que estarão nesta jornada não participarão necessariamente juntos de todas as atividades programadas, mas todo mundo está divulgando como uma jornada única, pois se trata de uma construção conjunta. Ela inicia com a nossa jornada e por volta das oito e meia teremos um ato em frente ao prédio do INSS. Dali, seguiremos para a Assembleia Legislativa onde será realizado um seminário sobre a Previdência Social que abordará questões técnicas sobre o tema, o olhar do Legislativo sobre ele e também alguns crimes que já estariam acontecendo.

Quais crimes são esses?

Recebemos relatos que algumas agências já estariam cobrando o pagamento do boleto, sendo que isso sequer foi votado ainda. Esses relatos também serão apresentados no seminário. Depois, à tarde, há uma diversidade de atos programados que ocorrerão em diferentes espaços mas estarão articulados entre si. Às 17h30min, haverá uma concentração na Esquina Democrática para uma segunda marcha voltada mais para o público urbano.

Você é coordenadora do setor de gênero dentro do MST. Como é que está esse debate dentro do movimento?

Nós vivemos em um país e em mundo machista, onde pouquíssimas sociedades têm uma prática mais igualitária. No trabalho rural, nós temos uma separação bastante clara e marcada principalmente pela exploração. Isso vem desde o tempo em que grandes latifúndios contratavam homens sabendo que, de lambuja, contariam também com o trabalho do resto da família. Como disse antes, mesmo antes da criação do MST, existe um debate sobre a questão da visibilidade da mulher do campo. Nós temos uma dupla luta aí. Uma se dá no plano interno para fazer os companheiros e companheiras entenderem quais são as raízes da violência e quais são os gatilhos que despertam, muitas vezes, sentimentos e comportamentos de preconceito e de discriminação.

Nós tivemos um debate bem difícil para chegar ao que temos hoje dentro do MST e sabemos que ainda temos um longo caminho a percorrer. Em janeiro deste ano, tivemos uma reunião da coordenação nacional do movimento, com representação de todos os estados. Além de analisar a conjunta política, tivemos um debate sobre alguns temas e setores específicos. Como ocorre já há muitos anos, as mulheres fizeram uma grande assembleia, onde, entre outras coisas, foram identificadas e debatidas as diferentes formas de violência vividas por elas. Uma novidade este ano foi que tivemos também uma assembleia só com os homens, onde se debateram vários temas, inclusive a questão LGBT que também está presente no meio rural e dentro dos movimentos. Nós temos bastante dificuldade para trabalhar esse tema, principalmente nas áreas rurais, onde os tabus são mais cristalizados.

Temos vários temas para debater aí, envolvendo questões como o acesso a crédito e à terra para casais gays, a aceitação nos assentamentos enquanto família, a participação nas instâncias sem que a sua escolha sexual interfira nos seus direitos e no seu acesso ao espaço político, social e produtivo. Esse é um dos desafios que traçamos para o próximo período: conseguir fazer esse debate em todos os níveis, desde a nossa liderança nacional até a base do movimento, nos assentamentos. Precisamos enfrentar o machismo e todos os preconceitos decorrentes de nossa sociedade patriarcal que atingem não só as mulheres.

Nós temos assentados homossexuais em todo o país. A Bahia foi o primeiro estado que se desafiou a realizar um seminário para debater a questão da diversidade sexual. No MST, dentro do setor de gênero, o qual eu coordeno aqui no Rio Grande do Sul, nós temos coletivos. Em um primeiro momento, tínhamos coletivos de mulheres. Agora, começamos a ter coletivos LGBT também. Temos várias pautas para resolver aí, inclusive do ponto de vista institucional. Essa não é uma luta que se limita ao âmbito do MST. É uma luta universal por igualdade de direitos que estão sofrendo um ataque agora com esse governo. Nós tínhamos conseguido avançar um pouco e agora vemos um grande retrocesso. Tratamos de nos inserir nesta luta, vendo como, na condição de assentados e trabalhadores rurais podemos ajudar a conquistar essa igualdade e a quebrar os nossos próprios preconceitos.

Qual é a gravidade da situação da violência contra a mulher, hoje, no meio rural?

Esse é um problema significativo no meio rural principalmente porque os dados quase não aparecem. A criação de delegacias especiais para mulheres nos municípios pólo do Rio Grande do Sul já foi um baita avanço, mas que ainda não atende quem vive lá no interior e, muitas vezes, está a duzentos quilômetros de uma delegacia especial de mulheres. Uma de nossas pautas é fazer com que esse atendimento chegue também a esses locais. Hoje, quando temos uma denúncia de violência nestas regiões, contamos muito mais com a boa vontade da delegacia local e de quem está coordenando a delegacia. Em alguns municípios, conseguimos construir uma boa relação com as delegacias. Em outros, nem atendem, seguindo a lógica do dito "em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher".

Como são locais isolados, o agressor se sente mais protegido e mais livre. Essa violência atinge as mulheres desde muito cedo com casos de estupro e casamentos forçados de meninas de 13, 14 anos, que ainda são muito comuns.

Seguem muito comuns aqui no Rio Grande do Sul, inclusive?

Sim, aqui no Estado. Normalmente, as pessoas acham que isso só acontece no Norte ou Nordeste, mas se olharmos para a metade sul do Estado veremos que não é assim. Temos nesta região municípios muito grandes em extensão, mas com uma estrutura mínima. Piratini, por exemplo, tem quase 280 quilômetros de ponta a ponta, mas conta com um núcleo urbano muito pequeno que não dá conta das demandas de serviços de acesso à saúde, educação, segurança, etc. Tudo fica muito precarizado. A possibilidade de comercialização é outro problema sério. Um dos maiores desafios do MST é como é que a gente organiza os nossos assentamentos que estão há quase 150 quilômetros do asfalto – que, além da distância, é muitas vezes intransitável – para poder comercializar os produtos. Cerca de 70% de nossos assentamentos estão nesta região que se estende de Livramento até a beira de Pelotas. Eles foram criados lá, sem nenhum planejamento estratégico, numa área de extrema pobreza. Agora, os assentamentos já ajudam a girar um pouco mais o comércio e a politizar esses municípios. Essa falta de acesso a serviços e a direitos foi sendo naturalizada como uma realidade que já estava ali há cerca de trezentos anos.